sábado, 12 de abril de 2008

Trecho do Libertinagem (Fanzine perdido na minha coleção)

“O amor oferece o modelo de comunicação perfeito: o orgasmo. Sua intensidade, seu aqui-e-agora, sua exaltação
física, sua fluidez emocional, sua ávida aceitação por mudança tudo indica que o amor se provará chave na
construção do mundo. O ato de se fazer amor sumaria e destila ambos o desejo por, e a realidade de, uma vida de
paixões multidimensionais. O nascer do sol em que amantes deixam um ao outro é o mesmo nascer do sol que
ilumina a execução de revolucionários sem uma revolução”.
Por séculos a moral cristã-judaica e o liberalismo burguês vêm frustrando os prazeres nortunos dos amantes
(já que o dia foi dividido e reduzido ao trabalho e consumo.). Quando se foi descoberto que as pessoas não poderiam
ser controladas quando faziam amor ou quando amavam loucamente, culpa, decepção e o ciúme inevitavelmente
se seguiram. Era então inevitável se fazer do amor algo mediado, espetacular, comodificado, objetivado e em um
mundo governado pela propriedade particular, a única função de um objetivo é justificar seu proprietário. E assim
a cultura da possessão e separação foi feita. Nossos sentimentos reduzidos por proibições e falso moralismo,
perdemos a nós mesmos, perdemos o outro em nossos braços, não podemos sentir o todo. Com o amor dividido
e isolado, não podemos compreender sua realidade em nossas vidas, e o consideramos apenas um momento
passageiro, uma terra de sonhos, um pequeno refugio noturno sem nenhuma conexão com o resto. Satisfação
total ainda é possível no momento do amor, mas no instante em que se tenta estender este prazer a outras
esferas da vida, os desejos se frustram. Mas o amor será inseparável da vontade de se transformar o mundo, da
revolta, criatividade, do político, de se construir condições onde amantes se sentem livres onde quer que forem, e
não será nada. Amar representando papeis, por identificação passiva de personagens na TV, fazer exatamente o
que a tradição diz, significa estar em relação objetivada desde o inicio, e nos recusamos a participar do
assassinato de uma parte tão importante e excitante de nós mesmos. O amor deve ser libertado de seus mitos,
suas imagens, suas categorias espetaculares. O que a monogamia tradicional tem a nos oferecer fora à posse de
indivíduos, a objetivação do desejo, a criação do “adultério” a morte instantânea de inúmeras possibilidades de
prazer e intimidade, a propagação da maldita instituição da família e casamento? Nós amamos por prazer, pela
consciência do momento, para vivermos a nossa liberdade de amarmos incondicionalmente, pelo projeto mutuo
da realização de nossos desejos, pela totalidade da vida. O prazer que não aumenta a cada momento se evapora,
outras pessoas aumentam nosso prazer. O prazer que encontra sua realização na simples repetição não é realizado
e acaba sendo morto, e novas situações renovam este prazer. “Amantes, dêem um ao outro cada vez mais prazer!”.
Quando nos apaixonamos loucamente não temos medo de correr riscos, não temos medo de parecermos IDIOTAS,
de ser taxados de “imorais” ou “irresponsáveis” pois amar significa fazer coisas imorais e irresponsáveis! Amando,
escolhemos por nós mesmos o que fazer de nossa vida, onde ir, quem beijar, quando fazer amor as regras do poder
não mais fazem sentido quando um se entrega ao amor incondicional. Daí o imenso potencial subversivo do amor:
de repente, sentir o coração batendo mais rápido, o frio na barriga, se torna mais importante do que abstrações
como o Estado ou Igreja, do que a repetição monótona de uma vida entediada. É por isso mesmo que temos de
andar livremente pelo TODO da paixão, sentir esta inspiração onde quer que formos. O amor vendido pelo espetáculo
não nos oferece chance alguma de vivermos isto. Aqueles que lutam contra opressão capitalista sem entender o
que é subversivo no amor e no sexo, farão uma revolução incompatível com a realização do ser humano”.

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